Ainda na adolescência li um livro que me impressionou muito
e do qual guardei para sempre as imagens que fui criando ao longo da leitura. A obra,
intitulada Pássaros Feridos, ambientava-se na Austrália, onde queimadas,
poeira, cangurus e um delicioso romance desfilavam a cada capitulo por um lindo
roseiral. Não sei se essas rosas eram tão presentes ou se meu precoce fascínio
por flores lhe deu uma importância superlativa, mas há 2 anos atrás decidi ter
minha própria plantação.
Ganhei as primeiras 3 mudas de uma colega de trabalho
e a doação deve ter sido feita com muito amor, pois pegaram e floresceram
rapidamente. A generosa doadora, também me ensinou a podar e a fazer novas
mudas, com as hastes que sairiam da poda.
Há cerca de 3 meses atrás recebi também dela um vídeo que
circula na internet, com uma incrível e estimulante aula sobre como usar batatas para plantar
roseiras. Em resumo enfia-se a haste que sobra da poda numa batata e planta-se
essa batata hasteada numa mistura básica de terra. Simples assim!
Dias depois, ao chegar a casa, encontrei-me com Tião meu
jardineiro e em conversa com ele sobre algumas mudanças que faríamos no jardim,
peguei o celular e mostrei-lhe animadíssima o vídeo incrivelmente didático, que
nos levaria a proliferar o roseiral.
Incrédulo, mas humilde diante de minha excitação, aceitou o
desafio.
Na última quarta-feira ele me esperava com um sorriso maroto
no portão do jardim:
-Bom dia Dona Dulce
-Bom dia Tião. Aconteceu alguma coisa?
-Dona Dulce, roseiras novas não sei se a senhora vai ter, mas
batatas vai ter muitas.
-Batatas Tião? Como assim?
Segui-o até ao jardim para ele me mostrar uma fileira de
hastes de roseiras ainda sem qualquer broto, mas circundadas em seus pés por
pujante rama de batata.
Minhas gargalhadas diante daquela imagem deixaram-no à
vontade para conjecturar:
-Dona Dulce, será que vai dar batata com cheiro de rosa?
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